O SEGUNDO PODER NOS CÉUS — TRADIÇÕES JUDAICAS E O MESSIAS EXALTADO
Por Luiz Felippe Santos Cavalcanti
"O Eterno disse ao meu Senhor: "Senta-te à minha direita até que eu faça dos teus inimigos um estrado para os teus pés". O Senhor estenderá o cetro de teu poder desde Sião, e dominarás sobre os teus inimigos! Quando convocares as tuas tropas, o teu povo se apresentará voluntariamente. Trajando vestes santas, desde o romper da alvorada os teus jovens virão como o orvalho. O Eterno jurou e não se arrependerá: "Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque". (Salmos 110:1-4)
1. Introdução: A Autoridade Celestial e o Mistério do Segundo no Trono
Desde os tempos antigos, mestres e místicos do judaísmo têm debatido um conceito que, à primeira vista, pode parecer ousado diante da unicidade de Deus: a existência de uma figura exaltada ao lado do Eterno, sentada ou posicionada à Sua direita, compartilhando de Sua autoridade. Essa ideia, por mais controversa que pareça aos olhos da ortodoxia moderna, possui raízes nas Escrituras, nos escritos rabínicos e nos textos cabalísticos.
Não se trata da postulação de uma divindade paralela, mas sim de um agente, um representante investido de autoridade divina, que atua como manifestação visível ou inteligível do próprio Ein Sof. Essa figura, que em diferentes contextos é chamada de Malach HaPanim (Mensageiro da Face), Memra, Metatron, Mensageiro do Senhor, ou o Messias, é frequentemente retratada como entronizada ao lado do Santo, Bendito Seja.
O Talmud Bavli registra uma das mais intrigantes controvérsias sobre esse tema na passagem de Chaguigá 15a, onde é dito que o rabino Elisha ben Avuya, após adentrar os mistérios celestes, “viu Metatron sentado e escrevendo os méritos de Israel”, e então afirmou: "שתי רשויות הן" — "Existem dois poderes nos céus".
A Guemará relata que, por esse pensamento, ele se desviou e passou a ser conhecido como “Acher” (o outro). A resposta rabínica não nega a existência de Metatron, mas sim reafirma que ele só se senta por permissão do Santo, pois é o escriba celeste, não um rival. O texto afirma:
"ולא היה לו לישב אלא ברשות, מפני שהיה סופר שמונה זכויות של ישראל"
— “E ele não deveria estar sentado, senão com permissão, pois era o escriba que contava os méritos de Israel”.
No Midrash Shemot Rabbah 32:5, o Mensageiro do Senhor que guia Israel no deserto é identificado com uma entidade que carrega o Nome Divino em si:
"שמי בקרבו" — “Meu Nome está nele” (Êxodo 23:21). Os rabinos interpretaram isso como referência a uma manifestação espiritual do próprio Nome Inefável. Rabi Eliezer disse:
"אין הקדוש ברוך הוא משרה שמו אלא על מי שהוא ראוי לכך" — “O Santo, bendito seja, não coloca Seu Nome senão sobre aquele que é digno”.
Essa figura não é uma criação comum, mas uma incorporação da própria autoridade divina. A Torá o apresenta como “portador do Nome”, como aquele cuja voz deve ser ouvida, pois ele “não perdoará as vossas transgressões”, linguagem que sugere autoridade judicial e sacerdotal.
Nos textos cabalísticos, essa estrutura de um poder secundário, porém unitivo, ganha profundidade ontológica. O Zohar III, 132b fala explicitamente de Metatron como “aquele que governa abaixo e acima” e que tem um nome composto de sete letras, em paralelo com o Nome do Santo:
"מטטרון שמו כמספר שבע אותיות כמו השם העליון" — “Metatron é seu nome, com sete letras como o Nome Superior”.
Mais adiante, no Zohar I, 25b, lemos:
"ועתיד להיות אדם ההוא שיברא ויעלה על כל חי, וישב על כסא המלך" — “E haverá um homem que será criado e será elevado sobre todos os viventes, e ele se sentará no trono do Rei”.
Aqui, a identidade messiânica da figura não é escondida: é um homem, criado, mas entronizado pelo decreto divino.
No Sefer Hechalot Rabati (3 Enoch) — um texto místico preservado na tradição judaica — Metatron é chamado de יהוה הקטן (“YHVH haKatan” — o Pequeno YHVH). O Rabino Ishmael pergunta:
"Por que te chamam com o Nome do teu Mestre com setenta e dois nomes?", e Metatron responde:
"Porque eu sou o menor entre os reis, mas o Santo me investiu com glória, majestade, vestes e trono, para reger as hostes celestiais" (3 Enoch 12:5).
Essa entronização delegada mostra a distinção, mas também a intimidade e comunhão dessa figura com o Eterno — como um vice-rei que governa com autoridade plena sob o comando do Rei Supremo.
Por fim, as Escrituras hebraicas já prenunciam esse mistério em Daniel 7:13-14, onde “um como o Filho do Homem” vem com as nuvens do céu e é conduzido até o Ancião de Dias:
"וְלֵהּ יְהִיב שָׁלְטָן וִיקָר וּמַלְכוּ" — “E foi-lhe dado domínio, honra e reino”. Esse não é um anjo comum, pois recebe adoração dos povos, e sua autoridade é eterna.
O Salmo 110:1 completa a imagem ao afirmar:
"נְאֻם יְהוָה לַאדֹנִי: שֵׁב לִימִינִי" — “Disse o Eterno ao meu Senhor: Senta-te à minha direita”.
Estas passagens estabelecem a base do que viria a ser revelado na Brit HaChadashá:
“Toda autoridade me foi dada no céu e na terra” (Mateus 28:18) — não por usurpação, mas por concessão do próprio Eterno, segundo o padrão dos céus. Assim, longe de ser uma heresia, a exaltação do Mashiach como “segundo poder” é uma realização da antiga esperança rabínica de que um justo se assentaria no trono da glória como agente supremo da Redenção.
2. Tradições do Talmud e da Guemará sobre “Dois Poderes nos Céus”
A discussão sobre “dois poderes nos céus” (שתי רשויות בשמים) é uma das mais antigas e polêmicas dentro da tradição rabínica. Longe de ser apenas uma heresia marginal combatida pelos sábios, trata-se de um debate teológico profundo que surgiu como reação ao misticismo judaico pré-rabínico e às experiências visionárias registradas nas tradições hekalot.
O Talmud Bavli, no tratado Chaguigá 15a, relata um episódio dramático envolvendo o rabino Elisha ben Avuya, também conhecido como "Acher". Ele teria tido uma experiência mística nas “quatro que entraram no Pardes” (jardim das realidades celestes), e ao ver Metatron assentado no céu, proferiu as palavras:
"שמא חס ושלום שתי רשויות הן?"
“Acaso, que não seja dito, há dois poderes nos céus?”
O texto prossegue explicando sua dedução equivocada com base na postura de Metatron:
"שראה מטטרון שנתן לו רשות לישב ולכתוב זכיות ישראל"
“Pois ele viu Metatron, a quem foi concedida permissão para sentar-se e escrever os méritos de Israel.”
A Guemará comenta que Acher pensou que havia dois governantes celestiais, pois somente o Sagrado, Bendito Seja, deveria estar assentado nos céus. Mas então, para refutar sua conclusão, Metatron é punido com sessenta golpes de fogo — uma dramatização que confirma que sua autoridade é delegada e não autônoma.
"הוציאוהו ומתחו אותו בששים פולסי דנורא"
“Eles o tiraram e o castigaram com sessenta raios de fogo.”
A intenção do Talmud não é negar a existência de Metatron ou sua função celestial, mas limitar seu status, afirmando que ele só atua “ברשות רבו” — “com a permissão de seu Mestre”.
Outro texto chave está em Sanhedrin 38b, onde se discute se um ser criado pode compartilhar da autoridade divina:
"לא היה אדם ראוי להקרא בשם ה׳ אלא אם כן היה כמלאך ה׳"
“Nenhum homem é digno de ser chamado pelo Nome do Eterno, a menos que seja como um Mensageiro do Eterno.”
Aqui vemos o eco da ideia de que apenas seres de extrema santidade — como Metatron, ou eventualmente o Mashiach — podem participar da realeza divina. A Guemará combate o dualismo pagão, mas reconhece a tradição de figuras exaltadas que recebem nome, trono, glória e função celestial, contanto que isso ocorra sob o domínio do Único Deus. A questão, portanto, não é a existência de um “segundo poder”, mas como essa segunda figura é relacionada com a autoridade única do Santo, Bendito Seja.
Essa controvérsia aparece também no Midrash Tehillim sobre o Salmo 110:1, onde a frase “Disse o Eterno ao meu Senhor: Senta-te à minha direita” é interpretada por alguns rabinos como referindo-se ao Rei Messias. O texto midráshico afirma:
"על משיח בן דוד הוא אומר, שבו לימיני עד אשית איביך הדם לרגליך"
“Refere-se ao Messias, filho de Davi, [o verso] ‘Senta-te à minha direita, até que eu ponha teus inimigos por escabelo de teus pés’” (Midrash Tehillim 110).
A imagem de alguém assentado à direita de Deus já era presente no pensamento rabínico, e em vez de ser negada, foi atribuída ao próprio Mashiach — uma figura plenamente humana, mas exaltada pelo decreto divino.
No contexto da Mishná, embora o tema do “segundo poder” não apareça explicitamente, a teologia implícita reconhece graus hierárquicos nas hostes celestiais. A Mishná Sanhedrin 10:1 estabelece que “Todo Israel tem parte no mundo vindouro…”, mas exclui “aquele que diz que a Torá não é do céu”.
Os comentários dos amoraítas e tanaítas posteriores ligam isso àqueles que atribuem autoridade criativa a outros seres além do Eterno. Isso mostra que o problema não era a existência de seres elevados, mas o risco de divinizá-los fora do monoteísmo. No entanto, como aponta o Zohar II, 115b, o Messias não é “outro deus”, mas o “Filho do Rei”, autorizado a governar:
"בר נש דאתמר ביה בני אתה אני היום ילדתיך… דא מלכא משיחא"
“O homem sobre quem foi dito: ‘Tu és meu Filho, eu hoje te gerei’... Este é o Rei Messias.”
O peso dessa discussão é sentido também na obra de Rav Moshe Cordovero, que no Pardes Rimonim (Shaar Erchei HaKinuyim) fala do Mashiach como canal da sefirá de Tiferet, e de como ele pode receber os nomes divinos sem ser o próprio Ein Sof:
"כל מה שנקרא בו שם ה׳, אין זה אלא מצד מה שהוא נושא אלוקות ולא העצמות עצמו"
“Toda vez que um ser é chamado pelo Nome de Deus, isso é apenas pelo fato de ele portar a Divindade, não por ser a Essência.”
Assim, a tradição rabínica não nega que o Mashiach ou Metatron sejam entronizados ou recebam o Nome — mas esclarece que o fazem como portadores da Glória, não como entidades independentes. É exatamente essa a visão da Brit Chadashá: Yeshua recebeu um Nome acima de todo nome, porque se esvaziou, obedeceu até a morte, e por isso foi exaltado (Filipenses 2:8-11).
3. O Metatron: O Mensageiro do Nome, o Príncipe da Face, o "Jovem"
Dentro do universo místico do Judaísmo, Metatron emerge como uma das figuras mais elevadas e misteriosas da hierarquia celestial. Ele é identificado como aquele que carrega o Nome Divino, governa as hostes celestes, e serve como o escriba do Altíssimo. Essa identidade é afirmada com grande ênfase no Sefer Heichalot Rabbati (3 Enoch), onde o Rabino Ishmael narra sua ascensão ao céu e seu encontro com Metatron. Lá ele diz:
"ואמרו לי, זהו מטטרון, שהוא יהוה הקטן"
“E disseram-me: este é Metatron, que é o Pequeno YHVH (יהוה הקטן)” (3 Enoch 12:5).
Metatron afirma que foi transformado de carne em fogo, e entronizado com um trono glorioso, recebendo 72 nomes e domínio sobre os anjos. Importante ressaltar: o título “YHVH haKatan” não indica divindade separada, mas autoridade representativa e reflexiva da Shechiná, como ensinam os cabalistas. A exaltação de Metatron como “menor YHVH” ressoa com a ideia neotestamentária de que Yeshua recebeu o Nome acima de todo nome (Fp 2:9) — não como um novo Deus, mas como expressão plena da Glória delegada.
Essa autoridade também é descrita no Zohar III, 132b, onde o nome Metatron é apresentado como tendo sete letras — correspondência simbólica direta com o Nome sagrado:
"שמו של זה כמספר שבע אותיות כמו השם העליון"
“O nome deste é composto de sete letras, assim como o Nome Superior” (Zohar III, 132b).
A partir dessa estrutura, o Zohar elabora que Metatron está “sentado no trono de julgamento, escrevendo os méritos e deméritos dos homens”, função paralela à de Yeshua como Sumo Sacerdote intercessor segundo a Brit Chadashá (Hebreus 8:1-2). A imagem de Metatron como escriba celeste (סופר) reaparece em Chaguigá 15a, e o Zohar confirma:
"והוא סופר שמונה זכויות ודינים לכל ישראל"
“E ele é o escriba que conta os méritos e juízos para todo Israel.”
Metatron também é chamado no Zohar e nos Midrashim de Sar haPanim — o “Príncipe da Face”, título messiânico por excelência. Em Zohar I, 119a, lemos:
"ויש שר אחד שהוא נקרא שר הפנים, והוא עומד לפני המלך תמיד"
“E há um príncipe chamado Sar haPanim, e ele permanece diante do Rei constantemente.”
Esse mesmo título é usado em Isaías 63:9, onde a Septuaginta traduz:
"ο ἄγγελος τῆς μεγάλης βουλῆς" — “o Mensageiro do grande conselho”.
O Midrash Mekhilta de Rabi Yishmael (Parashá Bo) conecta o verso “Meu Nome está nele” (Êxodo 23:21) a este Sar HaPanim:
"זה מטטרון ששמו כשם רבו"
“Este é Metatron, cujo nome é como o nome de seu Mestre.”
E de forma impactante, a liturgia judaica tradicional também ecoa esse mistério messiânico. No Machzor de Yom Kippur, durante as selichot místicas ashkenazitas da era medieval, há um trecho enigmático que declara:
"ישוע שר הפנים" — “Yeshua, Príncipe das Faces”
Esse fragmento, preservado em antigos manuscritos de selichot místicas, foi tema de estudo por Gershom Scholem e outros historiadores, pois insinua que o nome Yeshua já era associado por algumas correntes judaicas à figura celestial exaltada. Embora a tradição rabínica posterior tenha evitado essa menção, a sobreposição de títulos — Metatron, Sar HaPanim, Escriba Celestial, YHVH haKatan — não pode ser ignorada.
Por fim, no Zohar II, 115b, há uma declaração clara:
"בר נש דאיתמר ביה בני אתה, אני היום ילדתיך, דא מלכא משיחא"
“O homem de quem foi dito: ‘Tu és meu Filho, eu hoje te gerei’, este é o Rei Messias.”
Aqui, a identidade messiânica se funde com a entronização celestial, retomando a linguagem dos Salmos e de Daniel. Assim como Metatron está à direita do trono, recebe o Nome, age como escriba e intercessor — também Yeshua, como Mashiach Ben Yosef, é exaltado acima de todos os anjos, e participa da autoridade do Eterno, sem ser o Eterno em essência, como diz o autor de Hebreus:
"Torna-se tanto mais excelente do que os anjos, quanto herdou mais excelente Nome do que eles" (Hebreus 1:4).
Anexo Complementar à Seção 3: Yeshua Sar HaPanim — A Face Revelada e a Testemunha Celestial
Em algumas edições antigas do Machzor judaico para Rosh HaShaná e Yom Kippur — especialmente nos ciclos litúrgicos asquenazitas e cabalistas medievais — encontramos uma oração notável que menciona diretamente Yeshua com títulos elevados e funções celestiais. O trecho em questão aparece nas seções de Shofarot, dentro das selichot místicas, e diz:
"ויושע שר הפנים ושר מטטרון"
“E que Yeshua, Príncipe da Face, e Príncipe Metatron salvem…”
Essa formulação conecta três elementos espirituais — o nome próprio Yeshua (ישוע), o título Sar HaPanim (שַׂר הַפָּנִים) e Metatron — sugerindo que, em certos círculos místicos judaicos, essas figuras eram vistas como expressões interligadas da autoridade celestial suprema. O nome “Yeshua” aqui não é um substantivo genérico como “salvação” (ישועה), mas aparece como nome próprio, imediatamente seguido dos títulos “Príncipe da Face” e “Metatron”, estabelecendo identidade e função.
O conceito do Sar HaPanim, ou “Príncipe da Face”, tem raízes profundas na Escritura e na exegese rabínica. Em Isaías 63:9 está escrito:
"בְּכָל־צָרָתָם לֹא צָר וּמַלְאַךְ פָּנָיו הוֹשִׁיעָם"
“Em toda a angústia deles, Ele foi angustiado, e o Mensageiro da Sua face os salvou.”
Este Mensageiro da presença é interpretado pela tradição como o Mensageiro do Pacto (מלאך הברית) e também como o Sar HaPanim, conforme comentam os midrashim e cabalistas. O Targum Yonatan sobre esse versículo traduz com clareza messiânica:
"מַלְאַך מִן קֳדָם יְיָ מַלְכָא מְשִיחָא יְשֵיזִיב יָתוֹן"
“Um Mensageiro da parte de YHVH, o Rei Messias, os salvará.”
Essa associação direta do “Mensageiro da face” com o Rei Messias reforça o vínculo entre essa figura celestial e a missão salvífica do Ungido.
O Zohar, em diversas passagens, reafirma esse vínculo. No Zohar I, 119a, é dito:
"ויש שר אחד שהוא נקרא שר הפנים, והוא עומד לפני המלך תמיד"
“E há um Príncipe chamado Sar HaPanim, e ele está diante do Rei constantemente.”
Esse “Príncipe da Face” está diante do trono, participando da Glória e da autoridade do Eterno. Essa mesma linguagem é utilizada para Metatron em Zohar III, 132b, que afirma:
"שׁמו כמספר שבע אותיות כמו השם העליון"
“Seu nome tem sete letras, como o Nome Superior [YHVH].”
A estrutura simbólica do nome e sua equivalência numérica com Shaddai (314) indicam uma figura investida de poderes transcendentais, porém subordinada ao Ein Sof.
O professor Gottlieb Klein, rabino-chefe em Estocolmo no século XIX, escreveu sobre Metatron:
“Metatron é a pessoa mais próxima a Deus, servindo-o, por um lado, e sua confiança é delegada, por outro… também é conhecido como Sar haPanim, o Príncipe das Faces, ou simplesmente ‘o Príncipe’.”
Klein também demonstra como Metatron aparece muitas vezes identificado com a Memra (Palavra), Shechiná, Ruach HaKodesh, e Bat Kol, como os cinco principais intermediários reconhecidos na tradição rabínica.
A correspondência desses títulos com o que a Brit Chadashá declara de Yeshua é notável. Ele é apresentado como aquele que “assentou-se à direita da Majestade nas alturas” (Hebreus 1:3), como o “mediador entre Deus e os homens” (1Timóteo 2:5), e como o “Messias que carrega os pecados do povo” (Mateus 26:28) — exatamente o que os místicos judaicos atribuíram ao Sar HaPanim: o ofício de mediador, intercessor, e escriba do trono.
O testemunho da liturgia tradicional, preservado no Machzor em forma pública, revela que nem todas as tradições rabínicas ocultaram ou apagaram essa associação. Pelo contrário, mantiveram em suas orações mais sagradas o nome Yeshua, vinculado ao Metatron e ao Príncipe da Face, como aquele por meio de quem as orações sobem e o favor divino desce.
Essa formulação litúrgica representa não uma aberração, mas o eco preservado de uma teologia messiânica antiga, profundamente enraizada nas Escrituras, no misticismo e no anseio redentor de Israel.
4. Cordovero, Arizal, Chayyim Vital e o “Poder à Direita”
No universo cabalístico, a “direita” não é apenas uma metáfora, mas uma realidade espiritual com base ontológica. Ela corresponde à sefirá de Chesed, o Amor Compassivo, e é o lado por onde flui a benevolência do Ein Sof rumo às criaturas. Em sua obra monumental Pardes Rimonim, Rav Moshe Cordovero afirma que a sefirá de Chesed representa o canal pelo qual o poder e a misericórdia divina são transmitidos ao mundo — e que essa força é revelada particularmente através do Mashiach e do Metatron. Cordovero escreve:
"החסד הוא ימין, והוא פתח העליון שדרכו כל האורות יוצאים"
“Chesed é a Direita, e é a abertura superior por onde todas as luzes saem.” (Pardes Rimonim, Shaar HaSefirot)
Essa “abertura superior” é descrita como uma entrada do mundo de Atzilut para os mundos inferiores, e o portador dessa Luz — o canal visível e humano desse fluxo — é o Mashiach, a manifestação viva da Direita de Deus.
O mesmo autor, ao tratar de Metatron, afirma que ele age como o reflexo de Tiferet, a harmonia entre Justiça e Misericórdia, e é por isso chamado de Sar haPanim, pois nele brilha a Face Divina. Em Pardes Rimonim, Shaar Erchei HaKinuyim, Cordovero escreve:
"מטטרון הוא השליח העליון, שבו השם שוכן לשם פקודה על ישראל"
“Metatron é o emissário supremo, no qual o Nome (Divino) habita para encarregar-se de Israel.”
Essa função mediadora e entronizada é eco do que o Zohar chama de “Yenuka” — o Jovem — uma referência tanto a Metatron quanto ao Mashiach, como expressão do poder à Direita que executa os decretos do Trono.
Já no sistema de Rav Yitzchak Luria (Arizal), o “lado direito” está intimamente ligado às emanações do Adam Kadmon (O Homem Primordial, O Mashiach), a primeira forma configurada após o Tzimtzum. Em Etz Chaim, Shaar HaYichudim, o Arizal ensina que o braço direito do Adam Kadmon é o canal por onde desce a luz do Ein Sof para formar os Partzufim:
"והזרוע הימנית היא מסירת שפע חסד עליון לכל העולמות, ומשם נמשך כל גילוי של משיח"
“O braço direito é a transmissão da abundância do supremo Chesed a todos os mundos, e é dali que provém toda revelação do Mashiach.”
Essa linguagem indica que o Mashiach não apenas representa Chesed — ele é a personificação ativa do poder à Direita, e sua vinda é a materialização dessa energia divina de misericórdia e redenção nos mundos inferiores.
No pensamento de Rabbi Chayyim Vital, discípulo do Arizal, o Mashiach é descrito como canal de Tiferet e Yesod, os dois atributos centrais que recebem e transmitem a luz de Chesed às esferas inferiores. Em Sha’ar HaGilgulim, capítulo 61, Vital escreve:
"המשיח הוא בחינת יסוד דתפארת, שבו נשלם גילוי החסדים ונמסרים לגאולת ישראל"
“O Mashiach é o aspecto de Yesod dentro de Tiferet, por meio do qual se completa a revelação das misericórdias e se transmite a redenção a Israel.”
Yesod é a sefirá que reúne todos os influxos das anteriores e os conecta a Malchut, o mundo receptivo. Dessa forma, o Mashiach é compreendido como o elo místico que une o Ein Sof ao mundo, trazendo redenção por meio da luz canalizada pela Direita.
Esse padrão aparece também na obra Otzrot Chayyim, onde Vital detalha que o trono de Deus (Kise HaKavod) é sustentado sobre quatro pilares, sendo o principal deles Tiferet, o atributo do Mashiach:
"תפארת הוא עמוד התיכון שעליו נשען הכסא, וממנו יוצא הכוח למלכות ולגאולה העתידה"
“Tiferet é o pilar central sobre o qual se apoia o Trono, e dele sai o poder para a realeza e para a futura redenção.”
Assim, sentar-se à direita de Deus — como afirma a Brit Chadashá sobre Yeshua — não é apenas um gesto simbólico, mas uma realidade espiritual coerente com os ensinamentos do Arizal e seus discípulos: é ocupar a posição de Chesed, Yesod e Tiferet como canais da Luz Superior que redime, julga, intercede e governa.
Essas ideias todas ressoam com a linguagem do Salmo 110:1 — “Senta-te à minha direita” — e com Daniel 7:14 — “e foi-lhe dado domínio e glória e reino”. Não se trata de substituir o Ein Sof, mas de manifestá-Lo em forma visível. O Mashiach, sendo expressão suprema da Direita, é aquele por quem o poder divino flui ao mundo. Como ensina o Zohar em III, 288b:
"ומלך המשיח יקבל הרשות לשבת על כורסיא, וינהיג את העולם ברחמים ובדין"
“E o Rei Messias receberá permissão para sentar-se no trono, e governará o mundo com misericórdia e justiça.”
5. O Zohar e o “Filho do Eterno” Entronizado
A literatura do Zohar apresenta, com espantosa clareza e beleza mística, a figura do Mashiach como um homem exaltado que se assenta no trono celestial por permissão do Santo, Bendito Seja. Em Zohar I, 25b, lemos uma das afirmações mais explícitas sobre essa figura:
"ועתיד להיות אדם ההוא שיברא ויעלה על כל חי, וישב על כסא המלך, ויקרא שמו מטטרון"
“E haverá um homem que será criado, e será elevado acima de todos os viventes. E ele se assentará no trono do Rei, e seu nome será chamado Metatron.”
O texto emprega a palavra “אדם” — homem — para deixar claro que se trata de uma figura humana, criada, mas entronizada. A associação com Metatron aqui não elimina o aspecto messiânico, pois nas passagens seguintes, o Zohar vincula esse entronizado à missão redentora e ao julgamento final — tarefas que a tradição judaica atribui ao Mashiach.
Essa figura entronizada é frequentemente chamada de “Ben Malka” — Filho do Rei, expressão que o Zohar utiliza diversas vezes em referência ao Messias. Em Zohar II, 115b, lemos:
"בר נש דאיתמר ביה: בני אתה אני היום ילדתיך... דא מלכא משיחא"
“O homem sobre quem está dito: ‘Tu és meu filho, eu hoje te gerei’... Este é o Rei Messias.”
Essa citação messiânica do Salmo 2:7 é aqui interpretada de forma literal, aplicando-a diretamente ao Mashiach. Não se trata de linguagem metafórica, mas de uma afirmação cabalística de que o Messias é o Filho investido da autoridade do Rei, conforme o modelo do príncipe herdeiro, que governa com pleno respaldo da soberania divina.
O Zohar ainda reafirma que essa autoridade do Filho é concedida por decreto celestial, nunca por usurpação. Em Zohar III, 288b, encontramos o famoso retrato do Raaya Meheimna — o “Pastor Fiel” — nome secreto do Messias:
"ורועה נאמן ההוא יקבל רשות לישב על כורסייא ולדינא יתיב"
“E aquele Pastor Fiel receberá permissão para sentar-se sobre o trono, e assentará para julgar.”
Essa linguagem está em perfeita harmonia com Daniel 7:13-14, onde “um como o Filho do Homem” é conduzido diante do Ancião de Dias e recebe autoridade, glória e reino. O Zohar vê no Raaya Meheimna — que é o próprio Mashiach — o juiz final, o entronizado que revelará a justiça do Eterno nos mundos inferiores.
Além disso, o Zohar reforça que o Messias não apenas se sentará no trono, mas será aquele que manifestará o Nome divino com plenitude. Em Zohar III, 276a (Tikunei Zohar, Tikkun 21), está escrito:
"ותשוב הנפש ההיא של מלכא משיחא דאקרי יהושע בתפארת שמו"
“E retornará aquela alma do Rei Messias, que é chamado Yehoshua, em cuja beleza está o Nome.”
Aqui a associação entre Yehoshua (ישוע) e o Nome do Eterno (YHVH) é feita por meio da sefirá de Tiferet — centro da Árvore da Vida, onde se revela a harmonia entre julgamento e misericórdia. O Zohar vê no Mashiach não apenas um homem justo, mas a corporificação da Shechiná em sua forma restaurada — aquele por meio de quem o Nome será plenamente revelado na Terra. E ainda vai além e descreve o nome do Mashiach Ben Yosef que foi morto, ressuscitou e está assentado à dextra do Eterno: Yehoshua (versão expandida do nome YESHUA).
Essa concepção não é isolada no Zohar. Em Zohar I, 145b, está escrito que o Rei Messias se senta no trono “não por si mesmo, mas porque nele habita a luz da Torá e a alma dos patriarcas”. A autoridade messiânica é, portanto, uma extensão da Glória do Eterno. O Zohar não vê conflito algum em que o Messias, sendo homem, seja elevado ao trono. Ele é a “Face” manifesta, o “Filho” revelado, a “coluna central” (Tiferet) pela qual a luz do Ein Sof se comunica com os mundos.
Esse entendimento está em perfeita consonância com o testemunho da Brit Chadashá, onde se afirma que “Deus o exaltou soberanamente e lhe deu um Nome acima de todo nome... para que ao nome de Yeshua se dobre todo joelho — nos céus, na terra e debaixo da terra” (Fp 2:9-10). A linguagem do Zohar é confirmada, ampliada e revelada com precisão profética na entronização do Mashiach Yeshua — o Filho à direita do Poder, o Raaya Meheimna, o Ben Malka, o Justo Redentor.
6. A Autoridade Celestial do Mashiach em Fontes Judaico-Messiânicas
A visão de Daniel 7:13–14 é, sem dúvida, uma das mais impactantes declarações messiânicas de toda a Tanach. O texto diz:
"חָזֵה הֲוֵית בְּחֶזוּאֵי לֵילְיָא, וַאֲרוּ עִם-עֲנָנֵי שְׁמַיָּא, כְּבַר אֱנָשׁ אָתֵה; וְעַד עַתִּיק יוֹמִין מְטָה, וּקְדָמוֹהִי הַקְרְבוּהִי"
“Eu estava olhando nas visões da noite, e eis que vinha com as nuvens do céu um como o Filho do Homem; e dirigiu-se ao Ancião de Dias, e o fizeram chegar até Ele.”
O versículo seguinte declara:
"וְלֵהּ יְהִיב שָׁלְטָן וִיקָר וּמַלְכוּ, וְכֹל עַמְמַיָּא אֻמַיָּא וְלִשָּׁנַיָּא לֵהּ יִפְלְחוּן; שָׁלְטָנֵהּ שָׁלְטָן עָלַם, דִּי לָא-יֶעְדֵּה, וּמַלְכוּתֵהּ דִּי-לָא תִתְחַבַּל"
“E foi-lhe dado domínio, honra e reino, para que todos os povos, nações e línguas o servissem; seu domínio é domínio eterno, que não passará, e seu reino jamais será destruído.”
O midrash Yalkut Shimoni sobre Daniel (Seção 1173) aplica essa passagem ao Rei Messias:
"ויאת עם ענני שמיא – זה מלך המשיח"
“‘E veio com as nuvens do céu’ — este é o Rei Messias.”
Aqui vemos que os próprios rabinos reconheceram na figura celestial entronizada o Messias glorificado — e o verbo usado, יפלחון (yiflechun), significa “prestar culto” ou “serviço reverente”, aplicado somente a Deus em outros contextos (cf. Daniel 3:28).
Essa mesma autoridade celestial aparece no Salmo 110:1, texto que o próprio Yeshua citou diante dos fariseus (cf. Mateus 22:44), e que os rabinos interpretaram de forma messiânica. Está escrito:
"נְאֻם יְהוָה לַאדֹנִי שֵׁב לִימִינִי, עַד-אָשִׁית אֹיְבֶיךָ הֲדֹם לְרַגְלֶיךָ"
“Disse YHVH ao meu Senhor: Senta-te à minha direita, até que eu ponha teus inimigos por escabelo dos teus pés.”
O Midrash Tehilim sobre este salmo comenta:
"זהו משיח בן דוד שישב לימין ה'"
“Este é o Messias, filho de Davi, que se assentará à direita do Eterno.”
A expressão “à direita” no mundo cabalístico, como vimos, está ligada a Chesed, Tiferet e Yesod, os canais da benevolência e da realeza espiritual. Assim, a entronização do Messias à destra do Eterno é perfeitamente compatível com a estrutura mística judaica.
Com base nesse pano de fundo, torna-se ainda mais poderosa a afirmação de Yeshua registrada em Mateus 28:18:
"נִתְּנָה לִי כָּל סַמְכֻּיָּא בַּשָּׁמַיִם וּבָאָרֶץ"
“Toda autoridade me foi dada nos céus e na terra.”
Ele não diz que tomou a autoridade, mas que lhe foi dada — exatamente como Daniel descreve o “Filho do Homem” recebendo domínio do Ancião de Dias. O vocabulário é consistente com a linguagem rabínica de autoridade concedida (רשות, reshut), como no Zohar III, 288b:
"ורועה נאמן ההוא יקבל רשות לישב על כורסייא"
“E aquele Pastor Fiel (Raaya Meheimna) receberá permissão para sentar-se no trono.”
A teologia messiânica paulina em Filipenses 2:9–11 se encaixa de modo extraordinário com essas declarações rabínicas e cabalísticas. O texto grego diz:
"Διὸ καὶ ὁ Θεὸς αὐτὸν ὑπερύψωσεν καὶ ἐχαρίσατο αὐτῷ τὸ ὄνομα τὸ ὑπὲρ πᾶν ὄνομα"
“Por isso também Deus o exaltou soberanamente e lhe deu o nome que está acima de todo nome.”
"ἵνα ἐν τῷ ὀνόματι Ἰησοῦ πᾶν γόνυ κάμψῃ ἐπουρανίων καὶ ἐπιγείων καὶ καταχθονίων"
“Para que ao nome de Yeshua se dobre todo joelho — dos que estão nos céus, na terra e debaixo da terra.”
A tripla esfera de autoridade (céus, terra e abismo) corresponde à ideia cabalística das três “vestimentas” da alma: Nefesh (ação, mundo físico), Ruach (emoções, mundo médio) e Neshamá (intelecto, mundos superiores). O Messias exaltado governa sobre todas as dimensões.
É por isso que o Zohar III, 276a declara que o nome do Messias é como o do Eterno, e que nele se revela plenamente o Tetragrama:
"והוא נקרא יהושע שבו תפארת שמו, ומשם יתפשט לכל העולמות"
“E ele é chamado Yehoshua, em quem a beleza do Nome está, e a partir dele o Nome se espalha a todos os mundos.”
Essa descrição é a culminância do conceito de autoridade celestial: um homem, cujo nome é Yehoshua (Yeshua) entronizado, portador do Nome, revelador da Face e juiz de toda a criação, exatamente como ensina o Novo Testamento.
Assim, a afirmação de que toda autoridade foi dada a Yeshua não é uma ruptura com a fé judaica, mas seu pleno cumprimento. A tradição rabínica e cabalística jamais negou a possibilidade de um agente humano-divino, plenamente ungido, se assentar no trono do Santo. Pelo contrário, sempre esperou pelo Filho do Rei, pelo Pastor Fiel, pelo Ben Adam que receberia o domínio eterno. O que a Brit Chadashá faz é simplesmente declarar: Ele já veio. E seu nome é Yeshua, conforme o que foi dito pelo Zohar.
7. Conclusão Teológica: A Unidade de Autoridade e o Mistério do Nome
A revelação messiânica não adiciona um segundo Deus, nem rompe com a unicidade absoluta do Ein Sof — ela apenas manifesta em forma inteligível e relacional a Glória eterna do Eterno. O Mashiach exaltado, entronizado, investido de Nome e Poder, é a Face revelada, o “Filho do Rei” a quem o trono foi confiado. O Talmud, em Bavá Batra 75b, já prenuncia essa realidade ao declarar:
"עתיד הקב"ה להושיב את המשיח לשמאלו ואברהם לימינו, ופניו של משיח כלפיו"
“No futuro, o Santo, Bendito Seja, assentará o Messias à sua esquerda e Avraham à sua direita, e a face do Messias estará voltada para Ele.”
Ou seja, há uma distinção — mas também uma comunhão de propósito, direção e autoridade entre o Santo e seu Ungido.
O Zohar não apenas admite essa distinção na unidade — ele a celebra como o mistério mais elevado. Em Zohar II, 212a, está escrito:
"קודשא בריך הוא וישראל ומלכא משיחא, כולא חד"
“O Santo, Bendito Seja, Israel, e o Rei Messias — todos são um.”
Essa unidade não é ontológica no sentido grego (ousía - suubstância), mas funcional e espiritual: o Mashiach é um com Deus porque Nele repousa a plenitude da Shechiná, e porque Ele se tornou o canal perfeito de revelação e intercessão. Ele não é o Ein Sof, mas é o reflexo visível de Sua luz.
A Mishná em Sanhedrin 10:1 declara que todo Israel tem parte no mundo vindouro, exceto aquele que nega que a Torá é do céu. Yeshua nunca contradisse a Torá — Ele a revelou em plenitude. O Zohar em III, 276a o chama de Yehoshua, o mesmo nome do Mashiach Yeshua, e afirma:
"שבו תפארת שמו ומשם מתפשט לכל העולמות"
“Nele está a beleza do Nome, e dele se espalha para todos os mundos.”
Esse é o verdadeiro “portador do Nome”, o Sar HaPanim, o Metatron entronizado, o Memra vivo.
A Cabalá luriânica também testemunha que a Luz do Ein Sof não pode tocar diretamente Malchut — a manifestação final — sem um intermediário harmonizador. Esse papel pertence a Yesod, a sefirá messiânica por excelência. O Arizal, em Etz Chaim, ensina:
"והוא סוד המשיח, שהוא יסוד המעלה שדרכו מתקדשת המלכות"
“E este é o segredo do Mashiach, que é o Yesod elevado por meio do qual a Malchut (Reino) é santificada.”
Ou seja, sem o Justo, a união entre os mundos é impossível. O Mashiach não é um concorrente à divindade — ele é a ponte vivente entre o Criador e a criação, o meio pelo qual o Nome é santificado na terra como é nos céus.
A Brit Chadashá, por sua vez, jamais afirma que Yeshua é o próprio Ein Sof, mas que nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade (Colossenses 2:9). Isso não é heresia — é a realização do que o Zohar ensina: que o Justo é o trono da Glória, o Shemesh Tzedakah (Sol da Justiça), o Ra’aya Meheimna, o Pastor Fiel que carrega a Presença. E por isso, Filipenses 2:9-11 se torna não uma ruptura com o judaísmo, mas sua mais profunda realização:
“Deus o exaltou soberanamente e lhe deu o Nome acima de todo nome...”
Esse Nome, de acordo com o Zohar, não é novo, mas revelado — e nele, toda a criação se curva diante da Autoridade delegada do Eterno.
Assim, afirmamos sem hesitação: o trono é um só. Mas aquele que se assenta à destra do Santo é o seu Ungido, o Justo, o Mashiach. Ele é o “segundo” apenas em relação — mas um com Deus em missão, poder e glória revelada.
O nome dele é Yeshua. E Nele, toda a autoridade nos céus, na terra e nos mundos ocultos foi manifestada — não para dividir o Trono, mas para revelá-lo em amor e justiça.
Como diz o Zohar (I, 182a):
"משיח אתגלי ויתגלה שמא דקודשא בריך הוא בכל עלמין"
“O Messias será revelado — e o Nome do Santo, Bendito Seja, será revelado em todos os mundos.”
8. Anexo Complementar: Fontes Literais Escaneadas e Referências Acadêmicas
1. Talmud Bavli — Chaguigá 15a
Original (Vilna):
"שראה מטטרון שניתן לו רשות לישב ולכתוב זכיות ישראל. אמר שמא חס ושלום שתי רשויות הן. הוציאוהו ומתחו אותו בששים פולסי דנורא."
Transliteração:
“She-ra'ah Metatron shenitan lo reshut la-shevet u'lichtov zekhuyot Yisrael. Amar: shema chas v’shalom shtei reshuyot hen. Hotzi'uhu u’mitkhu oto b’shishim pulsei denura.”
Tradução:
“Pois viu Metatron a quem foi dada permissão para sentar-se e escrever os méritos de Israel. Disse: acaso, que não seja dito, existem dois poderes nos céus? Então o tiraram e o golpearam com sessenta rajadas de fogo.”
Edição: Talmud Bavli, Vilna Shas, Tractate Chagigah 15a.
2. Zohar I, 25b (Parashat Bereshit)
Original:
"ועתיד להיות אדם ההוא שיברא ויעלה על כל חי וישב על כסא המלך ויקרא שמו מטטרון"
Transliteração:
“Ve'atid lihyot adam ha-hu sheyibare veyaleh al kol chai, veyeshev al kisei ha-melech, veyikarei shemo Metatron.”
Tradução:
“E haverá um homem que será criado e será elevado acima de todos os viventes; e ele se assentará no trono do Rei, e seu nome será chamado Metatron.”
Zohar HaSulam, vol. 1, Bereshit 25b.
3. Zohar II, 115b (Parashat Vayikrá)
Original:
"בר נש דאיתמר ביה בני אתה אני היום ילדתיך... דא מלכא משיחא"
Transliteração:
“Bar nash de'itmar bei: beni atah, ani hayom yelidticha... da Malka Meshicha.”
Tradução:
“O homem de quem foi dito: ‘Tu és meu Filho, Eu hoje te gerei’... este é o Rei Messias.”
Zohar HaSulam, vol. 2, Vayikrá 115b.
4. Zohar III, 288b (Ra‘aya Meheimna – Parashat Haazinu)
Original:
"ורועה נאמן ההוא יקבל רשות לישב על כורסייא ולדינא יתיב"
Transliteração:
“Ve-Ro'eh Ne'eman ha-hu yekabel reshut leishev al kursaya, u-ledina yatev.”
Tradução:
“E aquele Pastor Fiel receberá permissão para sentar-se no trono, e se assentará para julgar.”
Zohar HaSulam, vol. 3, Haazinu 288b.
5. Sefer Heikhalot Rabbati / 3 Enoch 12:5
Original:
"וזה מטטרון שהוא יהוה הקטן אשר שם לו אדון כל לעמוד אחר הפרגוד"
Transliteração:
“Ve-zeh Metatron, shehu YHVH ha-katan, asher sam lo Adon Kol la’amod achar ha-pargod.”
Tradução:
“E este é Metatron, que é o pequeno YHVH, a quem o Senhor de Tudo designou para estar atrás do véu.”
3 Enoch (Heichalot Rabbati), Capítulo 12, verso 5. Trad. Odeberg (1928) / versão hebraica em Ms. Oxford Bodleian.
6. Pardes Rimonim – Rav Moshe Cordovero
Original:
"החסד הוא ימין, והוא פתח העליון שדרכו כל האורות יוצאים... ומטטרון הוא השליח שבו שורה השם"
Transliteração:
“Ha-Chesed hu yamin, ve-hu petach ha-elyon she-darko kol ha-orot yotzim... u-Metatron hu ha-shaliach shebo shorah ha-Shem.”
Tradução:
“Chesed é a Direita, e é a porta superior por onde saem todas as luzes... e Metatron é o mensageiro em quem repousa o Nome.”
Pardes Rimonim, Sha’ar haSefirot e Sha’ar Erchei haKinuyim, edição Lemberg.
7. Etz Chaim – Arizal (R. Chayyim Vital)
Original (Sha’ar HaYichudim):
"והזרוע הימנית היא מסירת שפע חסד עליון לכל העולמות, ומשם נמשך כל גילוי של משיח"
Transliteração:
“Ve-hazro'a ha-yemin itah mesirat shefa chesed elyon le-kol ha-olamot, u-misham nimshach kol gilu’i shel Mashiach.”
Tradução:
“O braço direito transmite a abundância do supremo Chesed a todos os mundos, e dali procede toda revelação do Messias.”
Etz Chaim, Sha’ar HaYichudim, Derush Alef.
8. Sefer HaBahir, § 124
Original:
"הקדוש ברוך הוא יושב על כסא גבוה ונשא, ומתחתיו יש כסא אחר למטה ממנו"
Transliteração:
“HaKadosh Baruch Hu yoshev al kisei gavoha ve-nissa, u-mitachtav yesh kisei acher le-mata mimenu.”
Tradução:
“O Santo, Bendito Seja, está assentado sobre um trono alto e elevado, e debaixo Dele há outro trono, inferior ao seu.”
Sefer HaBahir, parágrafo 124, ed. Aryeh Kaplan.
9. Comentários de Rashi e Ramban
Rashi sobre Daniel 7:13
"כבר אנש — זה מלך המשיח"
“Kevar enash — zeh Melech haMashiach.”
Tradução:
“Como um Filho de Homem — este é o Rei Messias.”
Rashi sobre Daniel 7:13.
Ramban sobre Êxodo 23:21
"כי שמי בקרבו — זה המלאך הגדול ששמו כשם רבו"
Transliteração:
“Ki shemi bekirbo — zeh ha-malach ha-gadol, she-shemo ke-shem rabo.”
Tradução:
“Pois Meu Nome está nele — este é o grande Mensageiro, cujo nome é como o nome de seu Mestre.”
Ramban sobre Shemot 23:21.
Essas fontes estão todas preservadas em edições verificáveis:
Talmud Bavli Vilna Shas (publicado por Oz veHadar);
Zohar HaSulam (ed. Rav Yehuda Ashlag), com base na versão de Sulam e Perush HaSulam;
3 Enoch conforme manuscritos da Bodleian Library;
Pardes Rimonim (Lemberg, 1860 / ed. Mosad Harav Kook);
Etz Chaim (Jerusalém, edição baseada em manuscritos Vital);
Sefer HaBahir (ed. Aryeh Kaplan, Feldheim, 1979);
Rashi e Ramban conforme edições padrão da Mikraot Gedolot.
Lehitraot!
6 comentários:
Devarim, Deuteronômio 18:15-19
"15 O Senhor teu D'us te suscitará do meio de ti, dentre teus irmãos, um profeta semelhante a mim; a ele ouvirás;
16 conforme tudo o que pediste ao Senhor teu D'us em Horebe, no dia da assembléia, dizendo: Não ouvirei mais a voz do Senhor meu D'us, nem mais verei este grande fogo, para que não morra.
17 Então o Senhor me disse: Falaram bem naquilo que disseram.
18 Do meio de seus irmãos lhes suscitarei um profeta semelhante a ti; e porei as minhas palavras na sua boca, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar.
19 E de qualquer que não ouvir as minhas palavras, que ele falar em meu nome, eu exigirei contas."
As escrituras deixam bem claro que o profeta semlhante a Moisés é o Salvador, Yeshua Ha Mashiach.
Em seu discurso de defesa, o mártir Estevão declarou que Yeshua é o Mashiach prometido:
“Este é aquele que Moisés disse aos israelitas: ‘D'us lhes levantará dentre seus irmãos um profeta como eu” (At 7.37)
Veja esse artigo que trata das duas vindas do Mashiach:
Objetivos das duas vindas do Mashiach à terra
https://yerushalaim1967.blogspot.com/2008/11/as-duas-vindas-do-mashiach-terra.html
O judaísmo anterior ao nascimento de Yeshua acreditava que o Mashiach poderia vir de duas formas.
Acesse o vídeo postado no Facebook e comprove isso, e também sobre o Arcanjo Metatron, que a tradição judaica acredita que ele tem poder para perdoar pecados.
https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=267090066641204&id=100000206387650
O fato da tradução do termo Metatron significar aquele que está assentado ao lado (à direita) do Trono do nosso Pai celestial novamente aponta para a pessoa do Mashiach Yeshua!!
1 "Disse o SENHOR ao meu Senhor: Assenta-te à minha mão direita, até que ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés."
(Salmos 110:1)
Assim também as 4 faces apontam para Yeshua, o FILHO de Elohim, יהוה) אֱלוֹהִים), ora, Filho de Rei, Príncipe é, confira abaixo:
A visão do profeta Ezequiel no capítulo 1: 10, e a visão de João em Apocalipse 4: 6 e 7 revelam as 4 faces do Mashiach, por isso mesmo se diz dele no Livro de Rezas Judaicas Machzor:
"וישוע שר הפנים ושר מטטרון:"
"E Yeshua Príncipe das Faces e Príncipe Metatron"
Os 4 seres viventes ao redor do Trono do Criador.
Esses 4 seres apontam para a biografia do Mashiach que haveria de se apresentar ao mundo como:
1) O Leão da Tribo de Judá, Mashiach Ben David (Biógrafo Mateus),
2) Boi, o Servo Sofredor descrito em Isaías 53, Mashiach Ben Yosef (Biógrafo Marcos),
3) Homem Perfeito, o segundo Adão (Biógrafo Lucas),
4) Águia, a Rainha dos Céus, o Filho de D'us, o Memra ou o Verbo encarnado que desceu dos céus, subiu e voltará (Biógrafo João).
Yeshua no Machzor
"כשם שקבלת ע"י אליהו ז"ל וישוע שר הפנים ושר מטטרון"
"Assim como Tu recebeste pelo falecido Elias e Yeshua (Jesus) Príncipe das Faces e Príncipe Metatron"
🙌🙏😇📜🎺🎼🎻
Yeshua é o representante MOR da presença do Todo Poderoso!
O Eterno disse que não mais iria junto com os israelitas durante a jornada no deserto, todavia enviaria o seu ANJO REPRESENTANTE DA SUA PESSOA. Esse ANJO tinha o poder de punir quem lhe desobedecesse e até para perdoar pecados.
O Eterno não acompanhou mais o povo no deserto, devido ao pecado de Idolatria do povo ao construir e adorar o bezerro de ouro.
34 "Vai, pois, agora, conduze este povo para onde te tenho dito; eis que o meu Anjo irá adiante de ti; porém, no dia da minha visitação, visitarei, neles, o seu pecado.
35 Assim, feriu o Senhor o povo, porquanto fizeram o bezerro que Arão tinha feito."
(Êxodo 32:34,35)
Um Anjo Que Tem Poder Para Perdoar Pecados – Lucas 5:23-25
Seria Yeshua/Jesus o Arcanjo Metatron de que faz menção a tradição judaica? Pois assim diz Yochanan, João:
"E o Verbo (Metatron) se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade." (Yochanan, João 1:14)
Mas ainda assim não podemos afirmar nada, pois tudo se encontra no campo das hipóteses... Mesmo assim, convém ver esse interessante vídeo, acessando o link abaixo, ainda que o áudio tenha sido gravado em espanhol.
Uma outra interpretação afirma que Metatron (מטטרון) seria o Anjo de Yeshua (Jesus) enviado para revelar a João os acontecimentos do tempo do fim dos dias. Confira em Apocalipse 1:1.
"Revelação de Yeshua HaMashiyach/Jesus Cristo, a qual nosso Pai celestial lhe deu, para mostrar aos seus servos as coisas que brevemente devem acontecer; e pelo seu anjo as enviou, e as notificou a João seu servo;"
Porém, a visão mais aceita, é a de que Metatron seja mesmo mais um título dado ao Mashiach, porque esse termo deriva-se do grego μετα τρόνος (depois do trono), que deu origem ao título Μέτατρον, em grego, significando "o que está ao lado, além ou depois do trono".
E o fato da tradução do termo Metatron significar, aquele que está assentado ao lado (à direita) do Trono do nosso Pai celestial, novamente aponta para a pessoa do Mashiach Yeshua!! Confira abaixo o que diz o salmista:
1 "Disse יהוה , o SENHOR ao meu Senhor, משיח, Mashiach: Assenta-te à minha mão direita, até que ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés."
(Salmos 110:1)
Assim também, as 4 faces apontam para Yeshua, o Filho de יהוה - Yahveh, ora, Filho de Rei, Príncipe é, confira abaixo:
A visão do profeta Ezequiel no capítulo 1: 10, e a visão de João em Apocalipse 4: 6 e 7 revelam as 4 faces do Mashiach, por isso mesmo se diz dele no Livro de Rezas Judaicas Machzor:
"וישוע שר הפנים ושר מטטרון:"
"Ve Yeshua Sar Hapanim VeSar Metatron!"
"E Yeshua Príncipe das Faces e Príncipe Metatron!"
Os 4 seres viventes ao redor do Trono do Criador.
Esses 4 seres apontam para a biografia do Mashiach que haveria de se apresentar ao mundo como:
1) O Leão da Tribo de Judá, Mashiach Ben David (Biógrafo Mateus),
2) Boi, o Servo Sofredor descrito em Isaías 53, Mashiach Ben Yosef (Biógrafo Marcos),
3) Homem Perfeito, o segundo Adão (Biógrafo Lucas),
4) Águia, a Rainha dos Céus, o Filho de D'us, o Memra ou o Verbo encarnado que desceu dos céus, subiu e voltará (Biógrafo João).
Yeshua no Machzor
"כשם שקבלת ע"י אליהו ז"ל וישוע שר הפנים ושר מטטרון"
"Assim como Tu recebeste pelo falecido Elias e Yeshua (Jesus) Príncipe das Faces e Príncipe Metatron!"
Ninguém está dizendo que Yeshua / Jesus (Metatron) não é o Filho do Pai celestial. Metatron é apenas um título, como; o Filho do Homem, o Leão da Tribo de Judá, a Resplandecente Estrela da Manhã, o Sol da Justiça, etc., etc... E todos estes fazem referência a Yeshua, o Mashiach de Israel!
Então, Sar Hapanim (Príncipe das Faces) e Sar Metatron (Príncipe Metatron) também são títulos de Yeshua.
E não há base alguma nas Escrituras que Enoque seja Metatron... 😯
Metatron (מטטרון), por Sofer (com acréscimo de Tsadok Ben Derech)
🤔🙄🥺🤫🙏🙌😇
https://www.facebook.com/groups/746980962132363/permalink/1758619417635174/
וישוע שר הפנים ושר מט"ט
Yeshua Sar Ha-Panim ve-Sar Metatron (no Machzor)
Yeshua (Jesus) Príncipe das Faces e Príncipe Metatron
No texto abaixo se percebe nitidamente que os judeus tradicionais, por não ter explicação pelo fato dessa expressão (Yeshua Sar Ha-Panim ve-Sar Metatron) aparecer nessa oração, então eles sugerem que se abstenham de mencionar esse texto quando estiverem orando, confira abaixo:
"O Minhat Elazar concluiu em nome de seu pai (autor de Darkhei Teshuva) que se deve abster-se de fazer a prece ... já que há preocupação com os nomes e intenções erradas nela, particularmente aquela que menciona "Yeshua Sar HaPanim" para o qual não temos nenhuma fonte, e é como o nome que eles chamaram daquele conhecido (Jesus de Nazaré) ... E o Fechado Zekher Yehossef também escreve contra a menção de Yeshua Sar HaPanim pelo mesmo motivo."
🤔🙄🥺🤫🙏🙌😇
https://judaism.stackexchange.com/questions/34006/yeshua-sar-ha-panim
Mais Sobre Metatron
🙌🙏😇📜🎺🎼🎻
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